quinta-feira, 31 de maio de 2012

Noite embriagada


Ele entrou tímido no recinto e pensou:
- Todos me observam
Enquanto a plateia curtia o show de algo que nem sabia que era bom; mas, ao estar lá percebeu que algo não era seu, ou era, ficou a perguntar-se.
Chega um estranho chamado Brando, que finge ser um ator de qualquer comédia e pede-lhe que dê um sorriso, pensando que o que vê é a beleza inata; sem notar ínfimas diferenças.
Diferenças a parte, a vontade de falar com o cara novo explodia no seu peito; mesmo se sentido desvairado, depois de dançar a noite toda no local que escolhera por malícia. E ele fala com Brando:
- Ei! Que vontade de te sentir em mim.
- Mesmo sabendo que não estou afim. Explorar tudo em mim é nocivo, mas, é interessante.
Os dois se sentam, proseando sobre um passado próximo, que compartilham comumente, da forma mais simplista. Certos de que se entendo mutuamente era melhor; logo chega um moreno cabisbaixo e roto, chamado Aldo, que diz interessar-se por ele e não por Brando:
- Eu gosto de você!
- Aldo, deixe de loucura – disse Gabriel.
Logos os três se entreolham e notam que fidelidade é a persistência para o nada; pois, os mesmos queriam nada mais do que carícias, ou uma foda a três que pudesse situá-los em si. O que foi um ménage à troi, poderia ser apenas três colegas experimentando o que queriam...
No inverno os dois se aproximaram mais, mesmo sentindo que o terceiro, Brando, poderia completá-los; sentir falta foi algo posterior, os dois viviam o nada e o tudo da mesma forma. A convivência tornou-se evidente para que percebia, e ao cair da neve perceberam que nada seria o mesmo, no calor extremo viviam situações conflituantes e únicas, e se amavam certos de que o certo era errado comumente.

(Março - 2012)

Semelhanças entre o nada e você


Ser o que você não é,
Cabelos da puberdade escorrendo em teu nariz
Olhos destroçados pelos sentimentos ambíguos
Homens caminhando
Desfilando seus rebolados
Um eu catatônico remoendo braços
Pensando em passados inexistentes
Cadê aqueles que vivem comigo?
Como está o eu que convive com este ser?
Chatice demasiada? Pieguice total?
Nus abstratos de uma pessoa que se
Despiu completamente.
Fantasia de um louco bêbado
Pensando que pode ser qualquer coisa
Julgar outrem de forma pitoresca percebendo
semelhanças entre o nada e você, doer o que se sente
mesmo sendo mentira
Imaginar que sua competência é igual a dormir
Notadamente o que você fala,
Sente ou vê é ridículo.

A morte é uma vivência abstrata
Lhe dizem isso o tempo todo, certo
De que você vai superar o nada
Mesmo sabendo que sua concepção
De qualquer coisa é certo ou
Errado na perspectiva de que o
Que eu penso é idiotice
Ser você mesmo é uma forma
Que outras pessoas hipócritas
Têm de dizer que você é fraco,
Ou que o proposto por você
Só é vivenciado por aqueles que te querem;
E que outrem fode com você,
depois goza branca e puramente na sua cara, fingindo
que nada é tão importante quanto ele
Cedo é pensado que nascer contribui
para uma vida patética.

(Março - 2012)


Luzes entorpecentes


Torturar-se mediante luzes entorpecentes,
Pairando sobre seu estômago vazio,
Querendo preencher esse buraco em sua mente,
Sonhando com algo doentio.

Beber em busca de prazeres superficiais,
Com a cabeça atolada em ideologias ocas.
Supondo fantasias eróticas – carnais,
Parecendo uma fina moça.

Como suplantar fatalidades vãs,
Vivenciando esquinas matinais,
Comungando da matilha alheia,
A sugar leite dos divãs.

(30/05/2012)